sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Em todos os cantos

Não pego esse ônibus, depois que o prefeito resolveu fazer uma obra atabalhoada que me fez perder um concurso importante. Não há esforço ou planejamento que resista ao mal. Acho que essa lição trago a muito tempo: lutar sempre contra esse inimigo ruim que sempre quer me derrubar (às vezes fisicamente). Contudo aprendi a reconhecer, alguns dirão que é uma certa intuição, quando e quem me prejudica, e estou cada vez mais aprendendo a isolar essas negatividades. Mas aquele senhor me chamou atenção: aspecto oriental, vários sinais irregulares no rosto. Não havia motivo, mas larguei toda minha angústia de dias tensos e brigas em família e observei ele, que atravessava a roleta. Com tantos lugares no ônibus, ele senta ao meu lado.
- A senhora é católica?
- Sou.
Ele então puxa um panfleto de uma evento, encontro de mulheres dos padres barnabitas e convida a participar. Foi o mote para uma longa conversa sobre nossas vivências católicas.
Eu encontrei minha definição há pouco tempo: sou Católica Preguiçosa Apostólica Romana. Não acho que estar dentro de uma igreja, necessariamente todo domingo ou fazendo o que seja para a paróquia me engrandeça o espírito; conheço várias pessoas que não saem delas e não têm postura cristã, católica ou mesmo ética. Prefiro trazer a minha igreja em mim, todos os cantos, em vez de ter um comportamento quase supersticioso de que me basta ir à missa, confessar e está tudo resolvido! Não entendo assim ser católica, pra mim, a nossa fé a gente carrega no dia a dia, na postura em relação ao próximo, seja qual for o grau de proximidade! Roupa de domingo é uma expressão muito estranha pra mim: eu sou o que sou o tempo todo, não apenas no domingo. Confesso que a minha preguiça a alguns ritos me dá trabalho.
Eu gosto de lutar pelo que acredito, eu gosto de observar o mundo e as pessoas, ver o melhor (ou a potencialidade) de cada um, gosto de ler e estudar, o exemplo de vida dos santos me alimenta a alma.
Tenho vários padroeiros, que foram surgindo para me abençoar na vida. Anas estão sempre surgindo em momentos inesperados - e percebi isso há pouco tempo, outra postagem falo delas - como avós, discretas, a dar o toque preciso na orientação de caminhos a seguir. São Tomé, padroeiro dos arquitetos, é outro exemplo.
E assim foi seguindo em temas a conversa com aquele senhor, ele também dando sua perspectiva de vivência católica, muito semelhante, através de outros exemplos.

Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei entre vós (Mt 18:20)

De repente percebo que algumas pessoas estavam atentas à nossa conversa. "Eu não pego esse ônibus", disse. "Nem eu", respondeu e continuou "mas temos que estar sensíveis ao que nos conduz". E nesse ponto da longa conversa (que eu desconfio que fez com que ele perdesse o ponto em que iria saltar), percebo que toda minha tensão por problemas vários na família tinha sumido. Ele fez menção de saltar, mas não fez, e eu desci. O sino da Sé tocou.

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