sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Meu São Tomé

Há muito tempo tenho buscado uma imagem de São Tomé, padroeiro dos arquitetos. O estereótipo daquele que precisa ver para crer já me representava em boa medida. A Lei de Murphy domina minha vida e preciso me cercar de certezas e, mesmo assim, muitas vezes, a vida me dá rasteiras. Não foram poucas nem pequenas. Mas Tomé foi o responsável por dois momentos fundamentais na consolidação do cristianismo, que temos referência na Bíblia: quando ele questiona a Jesus o caminho a seguir e a icônica incredulidade, o que sinalizou para a transcendência da fé, para além de fatos e materialidades.
Os atributos de São Tomé são o esquadro e a lança: com o primeiro ele, com sua retidão, construiu novas bases para o cristianismo no oriente, sendo importante na consolidação da fé cristã na Índia; com o segundo ele foi morto. Em torno de 500 anos depois de Cristo, o imperador Constantino se converte ao cristianismo e os cristãos, que viviam de forma clandestina no Império Romano do Ocidente, passam a ter apoio e saem ao sol. Essa é a Igreja que terá Pedro como pedra de sustentação, aquela que necessita de fundamentação estrutural para existir. A de Tomé já havia se consolidado no Império Romano do Oriente e manteve-se viva no Império Bizantino. Enfim, um apóstolo de coragem, que perguntou o que todos queriam falar, que foi na contra-mão, levando a fé até as últimas conseqüências.
Não encontro uma imagem de São Tomé! Aliás, encontrei uma, a representação de um apóstolo, sem nenhum atributo, escrito na peanha “São Thome”. O que é um homem sem sua história, sem trazer a sua bagagem de referências que o fazem diferentes dos demais? Não, aquele não era o meu São Tomé! Aliás, pensava em fazer o meu próprio santinho quando vi uma imagem, uma medalha, cuja vendedora denominava de “São José Trabalhador”. Acho injustas determinadas denominações – essa especialmente – que podem provocar leituras equivocadas. São José, trabalhador sempre, portanto não precisa ter esse aposto. Muito menos a invenção de um arquiteto de Belém que resolveu criar um “São José Liberto”, como se em algum momento ele tivesse sido escravo, preso ou limitado por qualquer motivo. Bem, retornando à medalha, a imagem trazia um esquadro na mão: sim, era o São Tomé! Era o meu São Tomé!

Em Bujaru, durante uma pesquisa, uma imagem foi identificada em seus atributos como Santa Bárbara, embora toda a comunidade rezasse ao pé de seu nicho como Nossa Senhora do Carmo. Quem está errando? Na dúvida, minha opção é sempre aquilo que transcende a matéria das coisas, portanto em Bujaru tem uma Nossa Senhora do Carmo e eu tenho uma medalha de São Tomé. E toda vez que eu olhar minha medalha vou recordar seu exemplo (e, por tabela, o de São José).

Nenhum comentário:

Postar um comentário